30/08/2018

30/08/2018

Análise: BlackBerry KEYOne



 O mercado mobile é extremamente volátil. Uma marca pode demorar longos anos até chegar ao topo, mas para cair vertiginosamente, basta um conjunto de más decisões, onde o ignorar o óbvio, é garantidamente o caminho para o abismo.


A história recente mostrou-nos diversos exemplos, com maior ou menos gravidade. Sony e sobretudo a HTC, estão a anos luz daquilo que já conseguiram no mercado mobile, mas há infelizmente casos em que más decisões acabaram por levar quase ao fim de uma marca, outrora poderosa e dominadora.

Assistimos nesta altura ao renascimento da Nokia pela mão da HMD, mas a Palm e o seu webOS não tiveram a mesma sorte, indo parar às mãos da LG, marca que tem (e bem) utilizado este último nas suas TV.

A BlackBerry, que muitas vezes criticou a falta de segurança do Android, acaba por ver neste SO mobile a sua tábua de salvação, ao licenciar a marca e o seu software à chinesa TCL, agora responsável por desenvolver, fabricar e comercializar os novos smartphones BlackBerry.

O BlackBerry KEYOne é resultado desta parceria e como não poderia deixar de ser, apresenta aquele que foi um dos pontos em destaque nos equipamentos da BlackBerry, um teclado físico. Numa altura em que o mercado mobile apresenta uma evolução notável a todos os níveis, poderá um teclado físico, em conjunto com um pacote de apps e actualizações de segurança mensais, ser argumentos suficientes para garantir o sucesso de um smartphone?  É precisamente isso que pretendemos levar à discussão, quando se espera pela chegada ao nosso mercado do sucessor deste KEYOne.


O BlackBerry KEYOne

Este smartphone não pretende seguir as tendências do mercado, pelo que acaba por ser um equipamento único, que facilmente se distingue dos restantes e como podem verificar nas imagens em baixo, não precisa do teclado físico para esse efeito.

O corpo é constituído por um bloco em alumínio anodizado, com uma espessura que já não é habitual hoje em dia. Pese embora tenha 9.4mm de espessura, o KEYOne acaba por ser um equipamento confortável em utilização, graças à curvatura lateral do corpo, que se ajusta à mão do utilizador. A traseira em borracha, é muito agradável ao toque e garante uma boa aderência em qualquer superfície.

Estamos na presença de um smartphone robusto, com 149.1 x 72.4mm, algo que é norma nos equipamentos com um ecrã FullView. No caso do KEYOne, o teclado físico "rouba" muito espaço, levando a que o ecrã seja apenas de 4,5", com uma resolução 1080x1620 pixels, relação 3:2 e 434 ppp.

O processador é um Snapdragon Snapdragon 625 (MSM8953 ) da Qualcomm, um Octa-core a 2.0 GHz com núcleos Cortex-A53 e uma GPU Adreno 506. Tem 3GB de RAM e 32GB para armazenamento e uma simpática bateria de 3500mAh. A câmara traseira tem 12 MP, abertura f/2.0,  sensor de 1/2.3" e pixeis com 1.55µm.Na frente, um sensor com 8 MP, abertura f/2.2, 1.12µm.

Tendo em conta que este smartphone tem ano e meio de mercado, o hardware está em linha com o que seria de esperar para um gama média.


Do lado direito temos o botão para ligar/desligar o smartphone, do lado oposto, o slot para os cartões, botões de volume e o botão de conveniência, a que voltaremos mais à frente. Em cima, um jack de 3,5mm para saída de som e um microfone, em baixo, uma porta USB-C e a saída de som. De referir, que o som também sai pela área do teclado, pelo que se taparem a saída inferior, vão continuar a ouvir o som da coluna.


Na frente, em cima, a câmara frontal, coluna de som para chamadas, led de notificações e os sensores de proximidade e luz ambiente. Na traseira, o logótipo em posição central e na zona superior, a câmara de 12MP e o respectivo flash.



Em utilização

Este KEYOne fez-me recuar uns bons anos no tempo, altura em que o Windows Mobile dominava o sector mobile e a HTC (QTEK) era uma marca que ditava tendências.Um bom teclado era sinónimo de produtividade, será que hoje em dia ainda assim é?



O teclado físico, retroiluminado, é necessariamente o elemento em destaque, pois todo o smartphone funciona em função do mesmo, seja para escrever ou até mesmo navegar.


O Sensor de impressão digital, na barra de espaços, funciona de forma exemplar. Poderia pensar-se que a sua reduzida área teria influência no processo de detecção da impressão, mas não é o caso deste diminuto rectângulo.
Muitas vezes fui levado a pensar que a barra de espaços é um botão home, algo que efectivamente não acontece. Seria no entanto uma opção que poderia ser explorada em determinados cenários, onde o teclado não está a ser utilizado para escrita.


A velocidade de escrita vai depender do tempo de utilização do equipamento. Inicialmente, vai ser inferior ao que conseguem num teclado virtual, mas com o tempo, a eficiência irá aumentar. O facto de poderem contar com sugestões, contribui decisivamente para uma escrita mais rápida. As três sugestões podem ser escolhidas através do toque na opção pretendida. Em alternativa, fazendo um gesto de swype, de baixo para cima, na zona da palavra que desejamos escrever.

Este teclado está efectivamente cheio de truques, pois além da escrita por pressão das teclas, podemos utilizar o método de swype, passando o dedo por cima das letras que constituem a palavra a escrever. É um método interessante, mas penso que menos eficiente que as teclas, ou um teclado virtual.






Quando no ecrã principal, podem utilizar as teclas para chamar aplicações, com cada um destas a dar a opção para dois atalhos, um com toque curto, outro com um toque mais longo. Os atalhos podem servir para chamar aplicações, enviar mensagens/emails, efectuar chamadas ou activar funcionalidades (entre muitas outras opções). Basicamente, podem ficar com atalhos para quase tudo e mais alguma coisa, o difícil será lembrarem-se para que serve cada tecla.

Além do Swype, podem ainda utilziar o teclado para fazer scroll no browser ou em outras aplicações em que tal se proporcione. Ao segurar o smartphone só com uma mão, esta torna-se uma funcionalidade muito prática e por isso mesmo, interessante.

Os símbolos são a parte menos prática da escrita, com o utilizador a ter de recorrer à tecla ALT para depois sim, poder escolher o símbolo pretendido. Para emojis, o melhor mesmo é activarem o teclado virtual, carregando na tecla SYM.



Para juntar aos 52 atalhos das teclas, têm ainda a tecla de conveniência, sendo que esta, ao contrário dos atalhos do teclado, funciona em qualquer ecrã. É possível definir mais três atalhos para apps ou funções, ao que ainda podem juntar mais três perfis de utilização, carro, reunião e casa, com atalhos apropriados para cada um destes cenários.




Os testes de desempenho estão dentro do que se espera de um gama média, com excepção da velocidade de escrita, manifestamente baixa e totalmente inadequada para um equipamento que custa várias centenas de euros.

Os atrasos nas animações do KEYOne são algo que também não é aceitável num equipamento com este tipo de hardware. Utilizando outro launcher, o problema fica minimizado e podem sempre activar as opções de programador, para configurar (ou desactivar) manualmente as animações.

Software

Em termos de software, a BlackBerry fez um excelente trabalho, disponibilizando um conjunto de aplicações que melhoram a experiência de utilização do equipamento. São tantas opções, que por si só davam direito a um artigo, algo que poderá vir a ser feito na review ao KEY2.

Temos o HUB para gestão de notificações, o password Keeper, para guardarem as vossas palavras passe num local protegido de olhares indiscretos, a tab de produtividade que concentra o calendário, email, tarefas, contactos e até widgets e o Notable para criarem notas com texto ou grafismos.




Destaco apenas 3 aplicações, o DTEK para controlo da segurança do smartphone, o power center, onde podem definir o perfil de utilização de cada aplicação (resolução, brilho do ecrã e fps) e o Privacy Shade que permite mostrar apenas uma reduzida faixa do ecrã, mantendo oculta a restante informação que esteja a ser consultada.



Como referência extra, a aplicação Locker, que permite proteger áreas do armazenamento, ficando estas apenas acessíveis através desta app, depois de utilizado o código definido para o efeito (ou impressão digital). Com o gestor de ficheiros que acompanha o smartphone, ou com o velhinho Total Commander, a pasta protegida permanece oculta.





Câmara


O hardware deste KEYOne é claramente orientado para um gama média e as câmaras são exemplo disso mesmo, com uma câmara traseira de 12 MP e abertura f/2.0. Na frente, 8 MP com abertura f/2.2.



A interface é constituída por 3 zonas principais. Em cima, flash, temporizador, formato da imagem, HDR e definições. À esquerda, as definições do modo Pro, quando activado. Em baixo, acesso às imagens, mudança de câmara, botão de disparo, modo de captura (foto, panorâmica, vídeo, câmara lenta e scanner) e filtros de imagem. Há ainda uma outra zona, acima da inferior, onde aparece a informação relativa à função que se estiver a utilizar/configurar. No caso da imagem em cima, é a distância de focagem.


Confesso que não esperava grandes resultados deste conjunto, mas as imagens obtidas acabaram por surpreender, como poderão verificar no álbum em baixo.


BlackBerry KEYOne

Em zonas bem iluminadas, a definição é bastante boa e não há distorção na reprodução das cores. Em zonas com pouca luz, há que ajustar o brilho, por forma a conseguir um bom resultado.



Apreciação final



Este Blackberry KEYOne é aquilo a que se pode chamar um bom recomeço, com a dupla BlackBerry/TCL a conseguirem colocar no mercado um smartphone interessante, bem pensado e com um público alvo muito bem definido.

O elevado preço pedido por este smartphone (acima dos 600€ no nosso mercado, bem mais barato lá fora), não deixa margem para dúvidas, a TCL quer apenas focar-se num nicho de mercado. Quem opte por comprar um smartphone como este KEYOne, vai fazê-lo necessariamente porque pretende tirar partido do magnífico teclado físico que este equipamento disponibiliza.

Não está por isso em questão, se um teclado virtual não pode oferecer a mesma eficiência de escrita, ou até melhor, que a que o teclado do KEYOne permite. O que se pretende efectivamente é o contacto com a tecla e todo o manancial de funcionalidades associadas ao teclado, ao que se junta um conjunto muitíssimo interessante de aplicações, pensadas para melhorar a produtividade do utilizador.

O KEYOne é por isso um smartphone muito interessante, mas que não está isento de alguns problemas, com a lentidão das animações a prejudicar a experiência de utilização. A gestão dos processos também não é a mais eficiente, com o smartphone a ficar por vezes lento, algo que se revolve facilmente, com o fechar das aplicações a correr em segundo plano.

As actualizações de segurança mensais têm chegada ao KEYOne, mas a actualização do Android, só recentemente começou a ser distribuída no Canadá, com a Europa a ter de esperar mais algumas semanas. Convém lembrar que a Google já apresentou o Android 9 Pie e a Essential já actualizou o seu Essential Phone.

Pelas razões acima apresentadas, este BlackBerry KEYOne fica-se por um honroso QUENTE, havendo por isso a expectativa em verificar se o KEY2 consegue melhorar os pontos menos positivos deste primeiro modelo. Há no entanto que ter em conta, que esta avaliação tem em conta a utilidade do teclado e das aplicações. Quem não valorizar estes dois aspectos, deverá naturalmente optar por outros smartphones.





BlackBerry KEYOne

Quente


Prós


  • Teclado
  • Aplicações BlackBerry
  • Qualidade de construção



Contras


  • Lentidão nas animações
  • Velocidade de escrita do armazenamento
  • Gestão de apps em segundo plano
  • Ainda à espera do Android 8 na Europa

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